sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

-Os Familiares na Bruxaria

Livro: "Enciclopédia da Bruxaria"
Autora: Doreen Valiente

Os familiares das bruxas podem ser de três tipos. O primeiro tipo é um ser humano desencarnado ou, em outras palavras, o espírito de uma pessoa falecida. O segundo tipo é um espírito não-humano, um elemental. O terceiro tipo é uma criatura verdadeiramente material, um pequeno animal como um gato ou um furão, ou um réptil, como, por exemplo, um sapo. Os familiares do segundo tipo, os elementais, às vezes habitam em um objeto em particular; esses espíritos serventes são atribuídos a magos cerimoniais no passado, assim como às bruxas. Diziam que o famoso ocultista Paracelso, por exemplo, possuía um familiar que morava em uma enorme pedra preciosa, provavelmente um cristal, que estava colocada no pomo de sua espada. Em livros antigos de magia é possível encontrarmos rituais para atrair espíritos e forçá-los a se instalarem em um cristal ou em um espelho mágico, com o intuito de servir a um mago. Pela ação desse espírito, as visões eram transmitidas pelo cristal ou pelo espelho. A ideia de um espírito guardado em um objeto, geralmente uma estátua, é também encontrada entre os magos de raças primitivas. Antropólogos chamaram a essas estátuas de "fetiche". Entre as bruxas na Grã-Bretanha, o tipo de familiar mais comumente encontrado é o terceiro, isto é, uma pequena criatura viva de um determinado tipo, mantida como um animal de estimação. Caçadores de bruxas geralmente insistiam em descrever esses familiares como "demônios" e alegavam que a bruxa os alimentava com seu próprio sangue. 
Há um pouco de verdade nessa última alegação, embora como sempre ela também tenha sido mal-interpretada. A imaginação dos caçadores de bruxas é constantemente muito mais asquerosa do que a das bruxas.

O que de fato acontecia era que a bruxa ou bruxo dava à criatura de tempos em tempos um pouco de seu próprio sangue, ou quando a mulher era uma bruxa e também uma ama-de-leite, um pouco de seu próprio leite. O objetivo disso era estabelecer uma ligação psíquica entre a bruxa e o familiar e dar continuidade a essa ligação. Do contrário, o familiar era alimentado com qualquer tipo de alimento que fosse normal à sua espécie. Muitos animais têm percepções psíquicas agudas e, ao observarmos os seus comportamentos, a presença de visitantes invisíveis, amigáveis ou não, pode ser notada. A total recusa de cachorros de entrar em um lugar que seja a cena de um lugar naturalmente assombrado [que tradução medonha!] é um fato constantemente atestado pela experiência. Gatos, ao contrário, parecem se divertir com a companhia de fantasmas. O sapo é uma criatura impressionantemente inteligente e fácil de ser adestrada. O natterjack, ou sapo que anda, era o tipo especialmente preferido para servir como familiar de bruxas, mas todos os sapos são ótimos animais de estimação, se forem mantidos em condições apropriadas. Eles Têm que ter água sempre ao seu alcance, porque eles respiram em parte através de sua pele, e se eles ficarem secos demais, podem morrer. Eles se alimentam de insetos, portanto, o jardim de uma cabana era uma moradia excelente para eles e alguns jardineiros dos tempos passados criavam sapos simplesmente para esse fim, para consumir os insetos que ameaçavam as plantas. O sapo é também geralmente inofensivo. Ele não pode morder, porque não tem dentes; a velha história de que ele espirra veneno é uma calúnia. O que na verdade acontece é que o sapo, quando está assustado ou agitado, exsuda veneno por sua pele, por meio de certas glandes na região de seu pescoço. Se você não assustá-lo ou machucá-lo, ele irá permanecer inofensivo; ele tem olhos maravilhosos, parecidos com pedras preciosas que brilham como joias entre as criaturas do reino dos répteis. [Como o leitor já deve ter notado, a escritora GOSTA de sapos]. 

Essa substância exsudada pela pele do sapo tem uma aparência leitosa e, consequentemente, ela ganhou o nome de leite de sapos. As bruxas que mantinham sapos como animais de estimação tinham certas maneiras de coletar o leite dos sapos sem machucar ou perturbá-los - um bom familiar era valioso demais para ser ferido. O leite dos sapos era usado em algumas das preparações secretas das bruxas; e os cientistas modernos descobriram que ele contém uma substância a que eles chamaram BUFOTENINA, que é uma droga alucinógena. Ele é também um veneno extremamente mortal, quando usado da maneira errada. A escritora, portanto, não acha ser de interesse público não desvendar muitos detalhes sobre esse assunto [tradução medonha]. A atual atitude irresponsável com relação a alucinógenos, infelizmente mostrada por muitas pessoas hoje, impede-me de fazê-lo. Isso, no entanto, foi uma das razões para a popularidade do sapo como um familiar das bruxas. O outro motivo é que os sapos, como os gatos, são criaturas, bastante psíquicas, e reagem a influências de aparições. 
O familiar animal era usado nas adivinhações. O método era colocar diante dele, dentro de um círculo mágico, uma série de objetos que representavam diferentes significados divinatórios, e esperar para ver qual deles o animal escolhia. As pedras pintadas mencionadas na introdução sobre adivinhação podem ser de grande utilidade para isso; ou brotos de diferentes ervas ou pequenos galhos de árvores podem ser usados. Antes de se iniciar a adivinhação, a bruxa tinha que formar o círculo mágico e invocar os Deuses para que enviassem um espírito para possuir o familiar e inspirá-lo a dar a resposta certa. Uma outra maneira na qual o familiar era usado acontecia quando se desejava enviar uma influência mágica para outra pessoa, algo bom ou ruim. Um exemplo disso faz parte da confissão de Margaret e Phillipa Flower, que foram enforcadas por bruxaria em Lincoln, em 1619. Essas duas irmãs tinham sido empregadas no Castelo Belvoir pelo Conde e pela Condessa de Rutland. Por alguma razão, uma delas, Margaret, foi dispensada. Sentindo que ela tinha sido tratada de forma injusta, ela pediu a sua mãe, Joan Flower, que se vingasse deles. Joan Flower já tinha a reputação de ser uma bruxa, e ela tinha um familiar, um gato chamado Rutterkin. 


Margaret Flower conseguiu roubar uma luva que pertencia ao Senhor Rosse, o herdeiro do Conde e da Condessa; sua luva foi usada para estabelecer a ligação mágica do ritual de vingança. A bruxa mãe, Joan Flower, esfregou a luva em seu gato Rutterkin, e ela deve ter pronunciado um feitiço sobre o Senhor Rosse enquanto passava a luva no gato. Em seguida a luva foi colocada em água fervente - certamente o caldeirão já estava borbulhando em algum lugar próximo dali. A luva foi retirada, espetada com alfinetes ou com a faca mágica, e finalmente queimada. O Senhor Rosse adoeceu e por fim morreu. A família Flower continuou a praticar a bruxaria contra a família do Conde e da Condessa até que boatos se espalharam pelo local, e elas foram presas e levadas para Lincoln para serem examinadas. A mãe, Joan Flower, caiu e morreu enquanto estava sendo levada para a Prisão de Lincoln; depois disso as duas irmãs confessaram e foram enforcadas. O que aconteceu com o gato não foi registrado; mas esse é um caso interessante como um dos raros exemplos dos quais temos detalhes de como os familiares eram realmente usados. O gato evidentemente agia como um tipo de médium para os poderes da bruxaria. As bruxas adquiriam familiares bem-treinados umas das outras. Eles podiam ser ganhos na iniciação, passados ou herdados por membros de uma família, ou deixados como um legado em testamentos. O familiar ganhava um nome e muitos cuidados. Às vezes os nomes eram curiosos e estranhos. Alguns nomes registrados de familiares de bruxas na Grã-Bretanha são Grande Tom Twit e Pequeno Tom Twit (esses eram dois sapos); Bunne; Pyewacket; Elimanzer; Newes (um bom nome para um familiar de adivinhação); Elva (que também era o nome da deusa celta, cunhada do deus solar Lugh); Prickeare; Vinegar Tom; Sack e Sugar [o título do 
Deus Dionysos/Osiris Bakha: o Sokar/Shachar/Zagreus ou Aker ou, como ficara popularmente conhecido nas lendas basco-espanholas, "Sugaar" ou "Suarra" o "Akerbeltz"]; Tyffin; Tissey; Pygine; Jarmara; Liard (uma palavra que significa "cinza"); Lightfoot; Littleman; Makeshift; Collyn; Fancie; Sathan; Grissel e Greedgut. Do continente vieram nomes como Verdelet, Minette, Carabin, Volan, Piquemouche e assim por diante. Cornelius Agrippa, um famoso escritor da filosofia oculta e da magia, supostamente mantinha um familiar na forma de um pequeno cachorro preto chamado Monsieur.

Um informação curiosa sobre a crença na eficiência dos familiares animais é o fato de que, durante a Guerra Civil na Inglaterra, os partidários de Cromwell muito seriamente acusaram o monarquista Príncipe Rupert de ter um familiar. Aparentemente o Príncipe tinha um pequeno cachorro branco chamado Boye, e as acusações dos Puritanos foram ridicularizadas em folhetos monarquistas contemporâneos, que fizeram crescer a história original que sugeria que Boye fosse na verdade uma linda bruxa de Lapland, que tinha se transformado num cachorro para fazer companhia ao galante Cavaleiro. Mas, para os Puritanos, a bruxaria não era assunto para brincadeiras. Foi durante a Guerra Civil que o famoso General Caçador de Bruxas, Matthew Hopkins, teve seu reinado de terror em East Anglia. Muitas pessoas idosas foram ameaçadas e torturadas a "confessarem", e por fim enforcadas, por nenhum outro crime a não ser o de manter um animal de estimação ou pássaro que seus perseguidores tinham decidido se tratar de um familiar. 
[É, a Doreen pisou na bola falando que são répteis. Bom, isso acontece nas melhores famílias...]. Nos dias de hoje, há algumas extremas congregações protestantes que proíbem seus membros de manterem animais de estimação. Essa pode ser uma sobrevivência reconhecida do antigo temor da bruxaria e do familiar. A palavra "familiar" vem do latim FAMULUS [não deriva exatamente de "famulus", mas, sim, de "Lar Familiaris" ou "Lares Familiares", cujo termo "famulus" é a origem etimológica], que significa um acompanhante. A história mais detalhada das Ilhas Britânicas sobre esse companheiro na forma de um espírito humano é o da bruxa escocesa Bessie Dunlop de Ayrshire, que foi condenada e executada em 1576. Seu familiar era o espírito de um homem chamado Thome Reid, que tinha sido morto na Batalha de Pinckie em 1547. Ela descreveu sua aparência como a de "um respeitável senhor idoso, de barba grisalha, e que usava um casaco cinza, com mangas lombardas, de joelhos, um chapéu preto em sua cabaça, fechado atrás e liso na frente, com laços de seda, e uma batuta branca em sua mão, completavam a descrição do que podemos supor ser um homem de aparência respeitável da província." Portanto, diz Sir Walter Scott, que em suas Cartas sobre a Demonologia e a Bruxaria revela-nos grandes particularidades sobre esse caso, Thome Reid era obviamente um mero fruto da imaginação em forma de fantasma. Além do mais, ele nos dá provas de sua identidade:

"Quando pressionada em particular sobre o assunto de seu familiar, ela disse que nunca o tinha conhecido enquanto esteve no mundo dos vivos, mas estava ciente de que essa pessoa com quem conversava era alguém que durante a sua vida na verdade tinha sido conhecido no meio terreno como Thome Reid, oficial proprietário de terras de Blair, e que tinha morrido em Pinkie. Ela disse ter certeza disso porque ele pediu que ela procurasse seu filho, e que tinha tomado o seu lugar como oficial, e também com outros de seus parentes, que ele forneceu os nomes, e a fez pedir que eles reparassem algumas das transgressões que ele tinha executado enquanto esteve vivo, munindo-a com símbolos e lembranças reais por meio dos quais eles poderiam ter certeza de que ela tinha sido enviada por ele. Thome Reid alertou Bessie sobre como tratar os doentes, tanto os humanos como o gado, e seus tratamentos eram geralmente bem-sucedidos. Ele também ajudava a descobrir a localização de propriedades roubadas. Em uma ocasião, ela disse, talvez de forma audaz demais, que o motivo pelo qual alguns instrumentos de ferro roubados não terem sido recuperados era porque um certo xerife oficial tinha aceitado um suborno para não os encontrar. Isso não deve ter sido bem recebido pelas autoridades envolvidas [o que essa criatura tinha na cabeça?], e imaginamos se essa não foi a verdeira razão pela qual era passou a ser tratada de forma dura pela lei, porque afinal ela jamais fora acusada de ter causado mal a ninguém. Todavia, como Sir Walter Scott diz: "As tristes palavras à margem dos registros 'Condenada e Queimada' suficientemente expressam a trágica conclusão de um conto tão curioso".

É impressionante que médiuns espiritualistas da atualidade afirmem ser auxiliados por espíritos que eles chamam de "Guias"; isto é, espíritos que especificamente se prendem a um médium para essa finalidade de ajudar na produção dos fenômenos e de aconselhar o médium. Sem de forma alguma desejar ofender os Espiritualistas, isso é exatamente o que o familiar humano das bruxas fazia e ainda faz. Um dos objetivos dos ritos das bruxas atuais é o de contatar os espíritos daqueles que foram bruxos e bruxas em suas vidas passadas na Terra, e que assim adquiriram sabedoria tanto na Terra como no Além. O procedimento das Bruxas, mesmo não sendo exatamente o mesmo dos espiritualistas, é contudo muito semelhante em muitos respeitos. A prática dos Espiritualistas de sentarem-se em um círculo, e de terem homens e mulheres sentados alternadamente é precisamente a mesma da bruxaria, assim como é sua crença de que o poder é latente no corpo humano, e que sob as condições corretas esse poder pode ser externalizado e usado por entidades descarnadas se manifestarem. 
As bruxas também acreditam, em comum com os Espiritualistas, que uma pessoa de temperamento certo [na verdade, é só questão de abrir o chakra manipura] pode entrar em um estado de transe, durante o qual um espírito pode fazer uso da mente e do corpo da pessoa para conseguir falar, escrever ou desenvolver ações; em outras palavras, elas acreditam na mediunidade. Essa pode ser uma das razões que explicam a oposição implacável de alguns sacerdotes para com espiritualistas - que eles reconhecem no ato muitas das crenças e fenômenos da bruxaria. O bruxo afirma, no entanto, assim como o espiritualista, que esses poderes e fenômenos são perfeitamente naturais, que eles estão dentro dos padrões das leis naturais, embora o materialista possa não entender o funcionamento de tais leis; essa é a forma pela qual esses poderes são usados tornando-os do bem ou do mal, e não a natureza essencial dos próprios poderes. Com relação ao familiar das bruxas que é uma entidade descarnada não-humana, um espírito da natureza, essa é uma crença não-exclusiva das bruxas. Ela pode ser encontrada também no Oriente, onde muitos faquires e magos afirmam produzir fenômenos maravilhosos por meio de sua aliança com os espíritos dos elementos.

No Ocidente, esses espíritos da natureza eram aceitos por pessoas de todas as raças. Os gregos e os romanos sentiam a presença das ninfas do rio e das montanhas, as ninfas das árvores e os faunos de pés de bode das florestas e, para eles, erguiam altares em lugares em lugares solitários da selva. Um altar desse tipo, com a inscrição DIIS CAMPESTRIBUS, é descrito por Sir Walter Scott como estando preservado na Biblioteca dos Advogados na Escócia. Ele foi descoberto próximo ao Castelo Roxburgh; o velho senhor responsável pela biblioteca costumava traduzir como "As Fadas, ye ken". Após a chegada do Cristianismo, todos esses espíritos da natureza foram considerados como pertencentes ao mundo das Fadas, do qual Diana, a deusa das florestas e da Lua, era a Rainha. Eles eram "A Riqueza em Comum Secreta", como o velho Robert Kirk de Aberfoyle os descreveu em 1691; a associação com eles foi proibida pela igreja como uma coisa da bruxaria. Até mesmo nos dias de hoje, alguns dos clérigos irlandeses mais severos dizem aos seus grupos de fiéis que os pequenos espíritos são "demônios" [um e
quívoco: elementais e fadas não são espíritos, pois possuem apenas corpo elemental, não corpo espiritual]. O respeito pelas fadas, entretanto, de forma alguma deixou de existir, principalmente nas partes mais celtas das Ilhas Britânicas. Na Ilha de Man, por exemplo, é comum as pessoas saudarem o Povo Bom quando eles passam pela Ponte das Fadas; esse costume foi seguido até mesmo pela realeza, em uma visita à ilha nos anos recentes. Para muitas pessoas, ele é simplesmente um traço pitoresco do folclore local, mas também são comuns os contos de pessoas que tratavam as fadas com falta de cortesia e que experimentaram coisas inexplicáveis com seus carros que paravam ou outros casos de desgraça desde então. Entretanto, qualquer amizade íntima entre os mortais e as fadas era considerada, geralmente com razão, como um sinal de bruxaria nos dias passados. Os registros disso são tão extensos e curiosos que eles exigem um capítulo só para eles. A crença no familiar das fadas está ainda suficientemente viva a ponto de ser perpetuada por Hollywood. Aquele filme muito engraçado "Harvey", estrelando James Stewart, era na verdade sobre um familiar desse tipo, e ele estava muito próximo na tradição pela forma que descrevia "Harvey", o pooka ou espírito [espírito não: elemental] das fadas em formas animais, e seus poderes travessos. 





Gatos como Familiares de Bruxas

Livro: "Enciclopédia de Bruxaria"
Autora: Doreen Valiente

O gato, especialmente o gato preto, é uma criatura de bruxaria em todas as crenças populares. Nenhuma concepção artística de uma cabana de uma bruxa nos tempos antigos poderia possivelmente estar completa sem Baudrons ou Grimalkin (gatos) astutos e ronronando próximo ao fogo, observando com seus olhos brilhantes tudo o que acontecia no local. O gato da bruxa, no entanto, não tinha de ser necessariamente da cor preta. Em MacBeth é um gato listrado que mia insistentemente, e o nome Grimalkin significa um gato com presas. de fato, toda a raça felina real dos gatos tem um certo mistério que é mágico e estranho. Eles provavelmente herdaram essa qualidade do Antigo Egito, onde eles eram animais sagrados. A deusa egípcia dos gatos Bast parece ter sido uma forma felina de Ísis. Bubastis era a sua cidade sagrada; lá e em outros lugares no Egito, milhares de corpos de gatos cuidadosamente mumificados e reverencialmente enterrados foram encontrados. O Museu Britânico possui um número de belas relíquias do culto aos gatos do Egito Antigo, especialmente os sarcófagos escavados, ou estátuas de tamanhos e formas reais de gatos, dentro dos quais corpos mumificados de animais doentes eram colocados. Os gatos são conhecidos na Grã-Bretanha desde os tempos antigos. O gato domesticado foi trazido do Antigo Egito e introduzido na Inglaterra pelos romanos. Um certo príncipe galês, Hywel, promulgou leis especiais para a proteção dos gatos. Ele era evidentemente um amante dos gatos, mas os gatos desenhados em velhas igrejas eram geralmente de um aspecto sinistro. "Demônios" felinos esculpidos em pedra brilham de forma grotesca nos lugares de adoração, principalmente em algumas de nossas igrejas que datam do período Normando. Esse é um outro exemplo dos deuses da Antiga Religião se tornando os demônios da nova religião. 


Uma estranha e famosa escultura relacionada à bruxaria é a que está na Catedral Lyons, que mostra uma bruxa nua segurando um gato por suas pernas traseiras, enquanto ela cavalga sobre um bode, que tem chifres enormes, mas um rosto humano. Sua única veste, um manto, pende para trás com os ventos esvoaçantes; com outra mão ela segura os chifres do bode, enquanto prende o gato na outra. As bruxas eram frequentemente acusadas de se transformarem em gatos com o propósito de molestar as pessoas, ou para correrem sem fazer alarde durante a noite quando executavam algum trabalho misterioso. Os hábitos noturnos dos gatos, seus olhos de Lua e seus horrendos miados [ei, que é que tem de horrendo nisso?] à meia-noite contribuíram para a sua reputação sinistra. Da mesma forma, seus pelos de natureza elétrica, dos quais faíscas visíveis de eletricidade estática podem às vezes aparecer em uma sala escura. Diziam que às vezes o demônio aparecia no Sabá na forma de um grande gato preto. Acredita-se que talvez isso fosse uma reminiscência distante da antiga veneração aos gatos. Acredita-se que os antigos deuses pagãos às vezes apareciam como animais. Diana assumia a forma de um gato, e Pan, a de um bode. As divindades das bruxas eram na realidade aspectos de Pan e Diana [depende do que ela considera "aspectos"], o Deus de Chifres e a Deusa da Lua, e o gato e o bode são os animais mais associados com a bruxaria, na lenda e na crença popular. Até os dias de hoje, há pessoas que temem quando um gato preto cruza seu caminho, embora essas pessoas não conheçam a origem dessa crença, de que o animal pode ser uma bruxa na forma de um gato. Outros, entretanto, consideram o gato preto como um símbolo de boa sorte. A velha rima popular nos diz: 

"Sempre que o gato da casa é preto,
O amor das jovens moças não irá faltar."

As pessoas usam broches e amuletos em forma de gatos pretos; nos anos 20 e 30 havia uma moda muito grande de chaleiras na forma de gatos pretos, como existe hoje por abajures com essa mesma forma. Existem inúmeras histórias de gatos capazes de ver coisas que são invisíveis aos olhos humanos. De fato, não existem amantes dos gatos que não sejam capazes de contar alguma anedota de seu animal de estimação tendo poderes psíquicos e telepáticos. A escritora conhece dois casos (um deles observado por sua própria mãe) de gatos que eram capazes de realizar a projeção astral; isto é, suas formas eram vistas em um lugar quando se podia provar que seus corpos adormecidos estavam em outro. Também tem sido uma questão de minha própria observação que gatos definitivamente gostam de sessões espíritas. Uma amiga minha, espiritualista, fazia de tudo para tirar o seu gato da sala em que as sessões aconteciam, porque ela acreditava que o gato "assumia o poder". Eu não tenho certeza do que realmente ela queria dizer com isso, mas o gato se recusava a deixar a sala, e tentava todas as possibilidades possíveis (e os gatos com certeza conhecem várias) para voltar à sala e participar da sessão. Alguns outros amigos espiritualistas, porém, aceitavam o desejo de seus gatos de participarem das sessões, e esse gato em específico, um enorme macho preto castrado, conseguia penetrar com maestria as sessões e presidia à reunião. Qualquer um desses gatos, se tivesse vivido há alguns séculos, teria sido tratado como um familiar de bruxas. A crença nos poderes ocultos associados ao gato é uma das mais sólidas sobrevivências dos antigos conhecimentos das bruxas.


Espírito Familiar

Livro: "Enciclopédia de Wicca e Bruxaria"
Autor: Raven Grimassi

Espírito familiar é um conceito associado com a Bruxaria há muitos séculos. Na lenda popular, o espírito familiar é um sapo, gato, bode, corvo, cachorro ou alguma criatura que ajude e proteja um Bruxo. Durante a Idade Média e o período da Renascença a igreja ensinou que o espírito familiar era um agente da imagem do Diabo cristão. O conceito mais antigo dos espíritos familiares das Bruxas era um animal espírito da natureza, o grupo consciente de um tipo específico de animal delimitado em uma única forma. Em algumas culturas, isto é chamado de animal de poder ou animal guia. [Apesar disso, ainda existem diferenças: Animal de Poder pode estar dentro da categoria Familiar, mas o inverso não ocorre]. Algumas Bruxas usavam um animal de estimação como passagem ou ligação para este tipo de conexão com o espírito superior do animal. Em tais casos, a forma astral do animal torna-se um veículo de trabalho com a consciência superior, embora certamente poucas Bruxas camponesas do período medieval tivessem sido capazes de tornar conhecido este conceito em tais termos. O conceito do espírito familiar das Bruxas é ligado com as práticas xamânicas e com a Tradição das criaturas mágicas de muitas culturas. Um dos mais antigos e claros sinais do relacionamento entre os humanos e os espíritos de animais guardiães é refletido no Ver Sacrum, o antigo ritual italiano da primavera sagrada, predatando o Império Romano. A cada primavera um costume era observado pelas antigas tribos italianas no qual uma parte da tribo era pedida para ser dividida e formarem novas colônias. Cada tribo era guiada por um animal sagrado. Os Sabelianos eram guiados por um touro, os Picenos por um Pica-pau, os Lucanos por um lobo, e assim por diante. (Bonnefoy, 1991, páginas 46-47, 52-54). [Atualmente, a tendência entre os historiadores é considerar que a Primavera Sagrada nunca existiu].

Muitos dos animais eram associados com várias divindades como Diana e o cão de caça, Hécate e o sapo, Prosérpina e o corvo, Pan e o bode, assim como também são animais que aparecem como animais familiares das Bruxas. Aqui, no lugar da figura de Satã pela igreja, temos pelo contrário, os verdadeiros remetentes de ajuda às Bruxas na forma de um animal. É digno mencionar que vários tipos de animais familiares das Bruxas mencionados nos Julgamentos da Inquisição são as mesmas criaturas associadas com a Deusa lunar desde a era Neolítica. Em particular estes animais eram a rã/sapo, cobra, pássaro, e o lagarto entre muitos outros. Esta é uma outra indicação da Antiguidade dos temas pré-cristãos encontrados na Bruxaria. As narrativas celtas relacionadas com os animais mágicos datam principalmente do período medieval primitivo ["Alta Idade Média" é o termo técnico] quando estas histórias orais foram colocadas no papel. Esses escritos foram feitos após o período pagão celta e foram registrados pelos monges cristãos trabalhando em monastérios. No entanto, um pouco de cuidado deve ser empregado ao adaptar tais narrativas já que eles não eram o livro de anotações cristão para se preservar e passar adiante as crenças pagãs. De qualquer modo, por contraste, essas narrativas contra as primitivas escritas cristãs sobre as crenças celtas pelos historiadores e comentaristas gregos e romanos é possível especular sobre o papel mágico ou místico dos animais na antiga cultura celta.


Livro: "Bruxaria Hereditária"
Autor: Raven Grimassi

p.48
O conceito de um espírito familiar entre as Bruxas Hereditárias Italianas está relacionado aos Lare ou Lasa. Ele [o espírito familiar] é o espírito ancestral do clã, o guia animal do Outro Mundo. (...) O animal guia é visto como o ancestral, provedor, e protetor.
O conceito de um espírito animal guiando e protegendo evoluiu quando os humanos foram morar em cidades. O primeiro estágio dessa evolução tornou-se o espírito Lasa, originalmente o espírito dos campos e florestas, refletindo o espírito animal das terras selvagens. Depois da conquista romana da Etrúria, o Lasa tornou-se o espírito caseiro conhecido como Lare. Ainda nessa imagem humanoide, nós encontramos o espírito animal aparecendo no copo de chifre seguro pelo Lare. O copo de chifre é tipicamente desenhado como uma cabeça de veado, ou outro animal chifrudo. Esse recipiente simboliza a antiga natureza animal do Lare.

p.78
A origem do que se pode chamar a fé das fadas italiana remonta aos tempos etruscos. A cerâmica antiga e a arte funerária da cultura etrusca retrata criaturas feéricas conhecidas como Lasa. As Lasa etruscas eram originalmente espíritos dos mortos, eventualmente evoluindo nos espíritos dos campos e das florestas. Os antigos romanos absorveram as crenças das Lasa em sua própria religião, chamando a esses espíritos de "Lare".

p.169
Porque o poder de uma Bruxa se acumula no decurso de muitas vidas, ele ou ela possui maior controle sobre o que acontece quando a alma liberta-se da dimensão física. É aqui que a antiga crença hereditária emerge, estipulando que uma Bruxa pode se tornar um espírito poderoso, escolhendo continuar a interação com o mundo dos vivos, ao invés de partir do mundo físico. Nessa crença nós nos encontramos nas brumas de uma conexão mais antiga entre os espíritos dos mortos e as fadas, na qual eles são na verdade uma e mesma criatura. Essa associação é esmiuçada no meu livro anterior "Os Mistérios Wiccans" (1997).

p.172
O conceito popular de um familiar como um gato, pássaro ou outra criatura física é relativamente moderno. Originalmente, o familiar era um espírito evocado pela Bruxa para ajudar em um feitiço, trabalho astral, e outras atividades ocultas. Porque um espírito do Outro Mundo só pode existir por um período de tempo muito breve na dimensão física, ele requer um veículo físico a fim de estender sua existência aqui. Então se tornou uma prática muito comum amarrar o espírito em uma criatura física tal como um gato. Isto resulta em consciência compartilhada entre o bicho de estimação e o espírito. O temperamento natural do gato tinha uma influência controladora sobre o novo espírito morador. O espírito do Outro Mundo dava poder ao gato e elevava sua [do gato] consciência. Isso permitia à Bruxa trabalhar com o familiar em ambos os mundos, físico e espiritual.

p. 48
Eles [os familiares] podem carregar a energia de um encantamento a alguém, ou algum lugar, se você desejar. Eles podem obter informação para você nos planos (físico ou astral) ou servir como guardas e assim por diante.


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[OBs: Em resumo, um familiar se trata, tão simplesmente, de um ser: um espírito, ou meramente uma alma animal, ou um elemental ou, ainda, um elementar; que desenvolvemos uma relação atávica e criando um elo, isto é, uma relação anamnésica do passado, e que, desta forma, no decorrer do tempo, convive ou pode retornar à nossa companhia oculta, sendo que este ser pode ser benéfico e que nos ajuda, ou maléfico e que nos causa danos. Todas as pessoas possuem familiares, porém, apenas as Bruxas e Iniciados possuem sensibilidade mágico-espiritual suficiente para detectá-los e contatá-los. No caso de um elementar, ou seja, um ser criado artificialmente por um mago, pode estar ligado à um objeto por tempo determinado, assim como uma alma ou um elemental ou um espírito, que é familiar, pode encarnar como um animal, vegetal ou humano].