sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

-William Shakespeare e a Bruxaria

{Recomenda-se, anteriormente à leitura deste texto, a leitura dos tópicos da galeria do portal virtual: "Os Clãs da Bruxaria na Antiguidade", "A Ordem Rosacruz e suas Origens" e "Ordem Rosacruz Irmandade de Crotona e seu Conventículo de Nova Floresta", para que tenha suporte suficiente para entender o que o autor abaixo sugere nas entrelinhas deste texto}.

Livro: “A Arte Sagrada de Shakespeare: o mistério do homem e da obra”
(Hamlet, Otelo, Macbeth, Rei Lear, e A Tempestade).
Autor: Martin Lings


Apresentação do Príncipe de Gales

Estou muito satisfeito com a publicação desta edição do livro notável do Dr. Martin Lings. Ele procura interpretar para uma audiência mais ampla a sabedoria profunda que está contida no simbolismo de algumas peças de Shakespeare. Trata-se de um livro cuja leitura achei difícil de interromper, uma vez que sem dúvida foi escrito a partir de uma consciência íntima e pessoal do significado dos símbolos que Shakespeare usa para descrever o drama interior da jornada da alma, drama este que está contido, por assim dizer, no drama exterior terreno das peças.

É claro que a dificuldade em escrever alguma coisa sobre Shakespeare é que muitos já o fizeram, e assim continuará sendo por gerações. Todas as teorias concebíveis sobre o sentido de suas peças, sua autenticidade e sobre seu amor parecem ter sido ventiladas em um tempo ou outro. Algumas destas teorias são mais esotéricas que outras, e atrevo-me a dizer que o livro do Dr. Martin Lings será visto como demasiadamente esotérico por muitos.

Seja como for, a percepção do autor neste campo da experiência humana seguramente tocará uma corda harmoniosa no coração de algumas pessoas e poderá abrir para elas uma porta oculta em um recanto de seu ser – recanto do qual elas podem não ter estado conscientes. Poderá, também, transformar seu entendimento e sua apreciação das peças de Shakespeare e de seu gênio intuitivo e levá-las a compreender que o verdadeiro significado de nossa existência terrena está inscrito no contexto da grande odisseia interior que somos chamados a realizar.

Sua Alteza Real,
O Príncipe de Gales.


A Arte Sagrada

Nas últimas décadas, tem havido um considerável aumento de interesse pela Idade Média. Não há dúvida de que em parte isso se deve a uma reação; no entanto, trata-se também, e muito mais, de um caso da ignorância dando lugar ao conhecimento. Em outro sentido, é simplesmente a volta à superfície de algo que sempre existiu e que está sempre sendo redescoberto. Não poderíamos dizer que, no fundo, sempre sentimos a superioridade da Idade Média em todos os lugares em que permaneceu conosco e em que não deixou de ser acessível, apesar da barreira erguida pelo Renascimento? Por exemplo, na poesia de Dante, ou – para dar um exemplo mais acessível e inevitável ainda – em sua arquitetura? Este sentimento implica também, ainda que subconscientemente, o reconhecimento de uma superioridade mais geral, uma vez que é totalmente impossível que as grandes catedrais normandas e góticas tivessem surgido de uma época que não apresentasse uma excelência interior que correspondesse a estas manifestações exteriores superlativas.

Uma das principais razões para o aumento do interesse pela Idade Média é, em si mesma, altamente significativa: durante os últimos cinquenta anos os europeus têm se interessado pela arte de outras civilizações mais que em qualquer outra época, e isto, sem dúvida, extirpou muitos preconceitos e abriu a porta para uma certa objetividade e frescor de julgamento. Depois de terem conhecido alguns dos melhores exemplos da arte hindu, chinesa e japonesa e, como que voltando-se para sua própria civilização, muitas pessoas, ao voltarem sua atenção para a arte de sua própria civilização, percebem que seu ponto de vista foi mudado irrevogavelmente. Após contemplarem uma grande paisagem chinesa, por exemplo, em que o mundo aparece como um véu de ilusão além do qual, quase visível, reside a Realidade Infinita e Eterna, ou após terem vislumbrado esta mesma Realidade através de uma estátua de Buda, elas encontram dificuldade em levar a sério uma pintura tal como a famosa Madona de Rafael, ou o afresco da Criação de Michelangelo, para não falar de sua escultura, e tampo Leonardo as satisfaz. Mas as pessoas percebem que podem levar verdadeiramente a sério, e mais a sério do que antes, algumas das primitivas pinturas senesas, como a Anunciação de Simone Martini, por exemplo, ou a estatuária e os vitrais de Chartres, ou os mosaicos do século XII e XIII em São Marcos de Veneza, ou os ícones da Igreja Ortodoxa.

A razão pela qual a arte medieval pode ser comparada com a oriental como nenhuma outra do Ocidente é que, indubitavelmente, a perspectiva medieval, como a das civilizações orientais, era intelectual. Ela considerava este mundo sobretudo como uma sombra ou símbolo do mundo vindouro, e o homem como uma sombra ou símbolo de Deus; e uma tal atitude, para ser operativa, pressupõe a presença de intelectuais, pois as coisas terrenas só podem se ligar a seus arquétipos espirituais através da faculdade da percepção intelectual, a intuição que penetra através do símbolo até a realidade universal que está mais além. Nas civilizações teocráticas, ainda que o artista não fosse um intelectual, ele obedecia a cânones estabelecidos sobre uma base intelectual.

Em seu sentido mais completo, a arte sagrada é a arte que se conforma a cânones fixados não por indivíduos, mas pela autoridade espiritual da civilização em questão, como era o caso da arquitetura medieval Cristã, do canto gregoriano, do antigo drama Grego, do teatro Nô Japonês, da dança e da música do templo Hindu – para dar só alguns exemplos – e tal arte é sempre algo como um critério e também uma fonte de inspiração potencial para obras menos centrais. Um teatro medieval é acima de tudo um retrato do Espírito que resplandece por detrás de um véu humano. Em outras palavras, ele é como uma janela que se abre do particular para o universal, e embora se encontre incrustado em sua própria época e civilização e seja eminentemente típico de um período e lugar determinados, tem ao mesmo tempo, em virtude desta abertura, algo que não pertence nem ao Oriente e nem ao Ocidente, nem pertence a uma época mais do que a outra.

Se a arte renascentista carece desta abertura para o universal e é totalmente limitada à sua própria época, é porque sua perspectiva é humanista; e o humanismo, que é uma revolta da razão contra o intelecto, considera o homem e outros objetos terrenos inteiramente por si mesmos, como se não houvesse nada além deles. Ao pintar a Criação, por exemplo, Michelangelo trata Adão não como um símbolo, mas como uma realidade independente; e desde que ele não retrata o homem à imagem de Deus, o resultado inevitável é que retrata Deus à imagem do homem. Há mais divindade subjacente no retrato de São Francisco de autoria de Simone Martini do que na representação que Michelangelo faz do próprio Criador.

Shakespeare nasceu menos de três meses após a morte de Michelangelo, e se diz frequentemente de ambos que são dois dos “grandes gênios do Renascimento”. Entretanto, como situar Shakespeare à luz de uma abordagem intelectual que aumenta ainda mais, se isto é possível, o nosso respeito por Dante, mas que diminui bastante nossa estima por vários outros cuja proeminência tem sido inquestionada durante tanto tempo? Os capítulos seguintes são uma tentativa de responder a esta questão mais detalhadamente; mas uma resposta geral pode ser dada imediatamente. Citemos, como pedra de toque, uma síntese magistral da diferença entre a arte renascentista e a medieval: “Quando estamos diante de uma catedral românica ou gótica, nos sentimos no centro do mundo; estando em frente a uma igreja renascentista, barroca ou rococó, nos sentimos apenas na Europa”[1]. Ora, sem tentar dar a Shakespeare um lugar tão essencial na arte da cristandade como o que é ocupado pelas catedrais ou pela Divina Comédia, será que não poderíamos dizer que estar presente a uma encenação adequada do Rei Lear não é simplesmente assistir a uma peça, mas sim testemunhar, misteriosamente, toda a história do gênero humano?

Mas esta observação provavelmente não poderia ser aplicada à maioria dos escritos de Shakespeare, e se desejamos formar qualquer juízo do dramaturgo maduro cuja perspectiva conferiu-lhe uma universalidade que é um prolongamento da universalidade da Idade Média, a primeira coisa a ser feita é, no momento, pôr de lado a maioria de suas peças, de modo a não confundir a questão. Poucos escritores, como Shakespeare, podem ter se desenvolvido tanto durante o seu período de trabalho. No fim do século XVI, ele já havia escrito algo em torno de 22 peças; mas de nenhuma delas se pode dizer que represente sua maturidade, embora algumas dêem,[2] de várias maneiras, uma antecipação inequívoca do que estava por vir.

Já não resta dúvida de que aos trinta anos[3] ou antes, Shakespeare estava familiarizado com várias doutrinas – algumas verdadeiramente esotéricas, outras meramente ocultistas – que interessaram tão apaixonadamente aos dramaturgos de Londres e outros escritores de então, bem como aos aristocratas que os sustentavam, protegiam e encorajavam, inclusive os dois sucessivos patronos[4] dos atores para quem Shakespeare escreveu suas peças e com os quais atuou. É desnecessário dizer que a corrente principal do legado místico da Idade Média era uma corrente cristã; porém, ao final do século XVI, ela foi engrossada por muitas outras correntes – pitagórica, platônica, cabalista, hermética, iluminista, rosacruz, alquímica. À margem de algumas destas correntes tradicionais estavam ciências tais como a astrologia e a magia, e muitas mentes foram cativadas e mesmo monopolizadas por assuntos secundários desta espécie. Mas, inicialmente, as tradições judaico-cristãs coincidiam com o misticismo cristão, a despeito de diferenças de terminologia e perspectiva. Elas se preocupavam, primeiramente, com os meios para purificar a alma de sua natureza decaída e, finalmente, com o fruto desta restauração do estado primordial, a reunião beatífica da lama com Deus.

Shakespeare, como Lyly, Spenser, Chapman e Bem Johnson – para falar somente de alguns – estava bem consciente de que o resultado do matrimônio químico do enxofre e do mercúrio, ou do “Rei e da Rainha” (a Magnum Opus dos alquimistas), é a alma ressuscitada e perfeita, e que, portanto, a obra alquímica é, assim, um primeiro estágio indispensável na via que leva à união mística da alma perfeita com o Espírito Divino. De fato, esta união é o tema do poema alquímico de Shakespeare “A Fênix e a Tartaruga”, como Paul Arnold demonstrou em seu comentário detalhado;[5] e se alguns objetam que este poema atinge uma maturidade extremamente profunda, que é difícil de ser contada entre as obras dos meados de 1590,[6] essa mesma união – o matrimônio precedido condicionado pela provação e purificação – é nada menos que o tema de mais de uma das primeiras peças de Shakespeare. Com relação a isto, o leitor deve somente olhar de relance os capítulos bem documentados de Arnold sobre Trabalhos de Amor Perdidos e O Mercador de Veneza[7] ou o capítulo de Jean Paris sobre o “teatro alquímico” em Shakespeare.[8]

O ponto a ser assinalado aqui não é o de que muitas das primeiras peças tracem simbolicamente o caminho dos Mistérios, mas sim que elas eram muito teóricas para serem plena e “concretamente” vinculada aos Mistérios. Na via esotérica, o conhecimento doutrinal tem de ser obtido pela mente antes de ser assimilado existencialmente pelo homem como um todo; e este processo de desenvolvimento reflete-se externamente na ordem cronológica de suas peças, pois uma coisa é fazer uso de uma reunião de símbolos, e outra é entrar totalmente em seu simbolismo. [...]

[...] “Deuses sempre gentis, tirem de mim meu alento:
Não permiti que meu pior espírito me tente novamente
A morrer antes que vos apraza”.

[...] Antes do fim de seu período de atividade literária, era proibido por lei mencionar o nome de Deus em cena. Era, porém, sempre possível referir-se aos “Deuses”; e se ele, deliberadamente, escolheu situar muitas de suas peças maduras em um cenário pré-cristão, deve ser observado que, no entanto, sua atitude em relação à Grécia e a Roma não é típica da Renascença. Shakespeare não estava simplesmente tomando emprestada a superfície da antiguidade clássica. Ele se colocou no próprio centro do mundo antigo. Para ele e para Dante, assim como para os antigos sacerdotes e sacerdotisas de Delfos, Apollo não é [apenas] o deus da luz – e sim a Luz de Deus.

[...] Se Shakespeare foi um continuador do passado, a qual destas duas categorias sua arte pertence, à esotérica ou à exotérica? Um exemplo do que pode ser chamado de obra exotérica, que se detém no sentido mais elementar de salvação, é O Castelo da Perseverança. Nesta peça de moralidade, a humanidade (humanum genus) é representada como tendo levado uma vida muito discutível, e é salva do Inferno, da face da justiça, pela virtude da misericórdia divina. Um exemplo supremo de obra esotérica é A Divina Comédia, que pressupõe a salvação e trata da purificação do homem e sua santificação última – ou, em outras palavras, da recuperação daquilo que havia sido perdido com a queda. Pode-se dizer que, na Idade Média, considerava-se que a massa dos leigos seguia a via da salvação, enquanto as ordens monásticas e as ordens laicas que a elas se ligavam (e uma ou duas outras irmandades, como a dos Maçons e a dos Companheiros) visavam seguir a via da santificação. Dito de outro modo, elas tinham como meta atravessar o purgatório nesta vida. Hoje se sabe que Dante pertenceu a uma irmandade afiliada a Ordem do Templo,[9] e que passou a uma situação mais ou menos clandestina quando a Ordem do Templo foi abolida. Alguns supõem que Shakespeare foi um membro da irmandade Rosacruz; outros acreditam que ele foi Maçom. Esta é uma parte de seu segredo que provavelmente não se conhecerá nunca, e não está no escopo destas páginas insistir em alguma coisa que não seja óbvia a partir daquilo que o próprio Shakespeare escreveu. O que é óbvio, de qualquer modo, é que suas peças transcendem a ideia de salvação em seu sentido mais limitado; e deve ser observado, de passagem, que isto sugere que ele seguia uma via espiritual – o que implica a filiação a uma ordem.

[...] Foi, contudo, privilégio de Dante estabelecer, para a cristandade, um desses ápices da arte que toda teocracia está fadada a ter, e isto provavelmente não pode ser dito de Shakespeare. A cristandade é de fato a civilização tradicional mais próxima de sua arte, e provincialmente ele nasceu na época exata para ser capaz de dotar suas peças com uma grandeza medieval extraída daquele mundo. Já demos dois exemplos de seu modo universal de expressão: “a prontidão é tudo”, de Hamlet, e “maturidade é tudo”, de Edgar, mas estes são apenas dois de uma multidão. Através de suas peças, somos relembrados vezes sem conta do que Sophocles chamara “os estatutos não escritos e incontestáveis dos Deuses... não de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos, e ninguém sabe quando eles foram estabelecidos”[10]. Estas palavras são frequentemente tomadas como referência ao que é geralmente conhecido como a filosofia perene, ou religio perennis; e é nessa religião subjacente a tudo, e não em qualquer forma religiosa particular, que a arte de Shakespeare está enraizada. Isso não significa que ele não fosse um cristão devoto e praticante. A piedade pré-religiosa não pode ser adotada no lugar da religião particular de qualquer tempo e local.

Ademais, um fator essencial desta piedade é a mediação entre céu e terra, que é uma característica espontânea do homem primordial em função de seu acesso, por assim dizer, “orgânico” ao Espírito. Mas, na falta disso, a mediação só pode acontecer pela realização de ritos que a religio perennis não outorga – e aqueles que reconquistaram este acesso libertador ainda continuam a realizar tais ritos, por mais de uma razão. “Esta hereditariedade profundamente estabelecida (religio perennis) é como a lembrança do paraíso perdido e pode irromper na alma por uma sorte de atavismo providencial”[11]. Acreditamos que Shakespeare foi um exemplo eminente desta possibilidade. Não é que neguemos em Dante o mesmo atavismo, mas é que nele o atavismo brilha através de um véu. [...] Quanto ao modo de Hamlet se expressar, Shakespeare se permite aqui, sob o disfarce da “loucura” do Príncipe, chegar bem perto da divulgação de segredos esotéricos. A iniciação nos Mistérios não é outra coisa senão a inoculação ou o enxerto de um broto da natureza primordial do homem no velho tronco de sua natureza decaída, a qual será assim apagada, com mau cheiro e tudo – desde que o novo broto primordial seja devidamente cultivado e implacavelmente protegido contra quaisquer parasitas que o velho tronco possa desenvolver numa tentativa de restabelecer-se. Esse cultivo e está proteção são os ritos e disciplinas dos Pequenos Mistérios, a via da purificação do pecado original e a recuperação, através deste meio, do estado edênico do homem.

[...] “Uma combinação e uma forma onde realmente
Cada um dos Deuses parece ter colocado seu selo
Para dar ao mundo uma forma de homem” (III, 4, p. 60-62)[12].

[...] O Inferno e o Purgatório juntos constituem o que a antiguidade greco-romana conheceu como os “Pequenos Mistérios” (Mysteria Parva). Hamlet agora penetrou totalmente nesses Mistérios e está, portanto, numa situação paralela à de seu pai – daí a preocupação com o pecado. [...] O que a mística denomina a “Descida aos Infernos”, isto é, a descoberta de inclinações pecaminosas na alma até então desconhecidas, algumas vezes toma a forma de uma verdadeira consumação dos pecados em questão, como acontece, por exemplo, com Ângelo em Medida por Medida e com Leontes em Conto de Inverno. O caso de Macbeth é, como veremos, bem diferente, pois esta é uma descida sem retorno, não relacionada aos Mistérios. [...] Em Hamlet, como vimos, o Rei assassinado tinha um duplo aspecto, como o próprio Adão: um caído e o outro não. Mas em Macbeth, Duncan nada representa senão a santidade. Muitas produções não tomam o cuidado de assegurar que os representantes do céu sejam suficientemente impressionantes. [...] É significativo que ele tenha se expressado sobre si mesmo usando termos referentes à luz. Aqui, não há dúvida de que Macbeth é mencionado como o principal entre aqueles sobre quem as honras secundárias “brilharão como as estrelas”. [...] À moda de Lucifer, ele desdenha ser a mais brilhante das lumeeiras secundárias. Em seu aparte à plateia, quando deixa a cena, suas palavras: “Estrelas, escondei vossos vulgores” tem portanto duplo sentido, pois retomam as palavras do Rei e são uma rejeição orgulhosa de todas as honras secundárias.

[...] “Tu, natureza, és minha Deusa: as Tuas leis empenho meus serviços” (I, 2, p. 1-2).

[...] “Ainda, para uma confirmação maior,
(pois, em uma ação desta importância,
seria extremamente lamentável estar desorientado),
Despachei como mensageiros para a sagrada Delfos,
Para o Templo de Apollo, Cleomenes e Dion...
Agora [mensageiros] do Oráculo, eles trarão tudo;
A partir de seu aconselhamento espiritual,
Eles me deterão ou me incentivarão” (III, 1, p. 180-187).

[...] Também podemos fazer uma observação análoga sobre a sua cunhagem de palavras. Criados também, mais do que fabricados, são os mundos nos quais as peças estão situadas: cada qual é como uma esfera única de existência, com sua atmosfera própria, que a faz completamente distinta de todos os outros macrocosmos shakespearianos. Mas o contato com uma fonte transcendente é sugerido, acima de tudo, pela constante repetição de um efeito transcendente. Tal contato é um segredo, pois pertence ao campo dos Mistérios; mas o verdadeiro propósito original da arte (que é a razão primordial de sua existência) é justamente “comunicar segredos” – não de qualquer maneira, mas oferecendo-os, por assim dizer, “com a mão entreaberta”, aproximando-os de nós e convidando-nos a nos aproximarmos deles. Em geral se admite que, em A Tempestade, a magia de Próspero, além de seus outros significados, tem a intenção de representar os poderes artísticos do próprio Shakespeare. A arte verdadeiramente inspirada é uma espécie de “magia branca” que encanta e fascina e que nos transforma momentaneamente, realizando, por assim dizer, o impossível, e fazendo-nos literalmente superar a nós mesmos, como se fôssemos espiões de Deus.






[1] Frithjof Schuon. A Unidade Transcendente das Religiões. Harper and Row, 1984, p. 61.
[2] Romeu e Julieta, por exemplo, Sonho de uma Noite de Verão, Henrique IV, Como Gostais e Noite de Reis.
[3] Em 1594; foi provavelmente neste ano que ele escreveu Trabalhos de Amor Perdidos e, no ano seguinte, Romeu e Julieta e Sonho de uma Noite de Verão.
[4] Ver Paul Arnould. Esotérisme de Shakespeare. Mercure de France, 1955, p. 60-61.
[5] Ibid., p. 130-139.
[6] Sua primeira publicação deu-se somente em 1601.
[7] Ibid., Paul Arnold, Capítulos I e IV.
[8] Evergreen Books. Shakespeare. 1960.
[9] Ver René Guénon. O Esoterismo de Dante. Gallimard, 1957, p. 11.
[10] Antigona, p. 454-457.
[11] Frithjof Schuon. The Essential Uritings. P. 531.
[12] Hamlet.




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Ao benemérito St. Prior J.'.E.'.C.'.S.'.
Pela divindade do Uno, do Deus e da Deusa,
Ao Filho Divino, Vida, Saúde, Força e União!

Três Vezes Abençoado.